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     A primeira pílula anticoncepcional foi o Enovid-R, lançada no mercado em 1960. Ela foi descoberta por acaso, por cientistas que queriam combater a esterilidade feminina. No Brasil, ela chegou em 1962. Inicialmente a pílula tinha 150 microgramas (mg) de estrogênio – atualmente tem apenas 20 mg. A redução se deu pelos efeitos colaterais, como o aumento de peso, fortes dores nas mamas e o tromboembolismo - que já acometia mulheres em 1963. 

Pílulas,

sinal de mudança

      Em julho do ano passado, depois de dezoito dias tomando uma nova marca de pílula anticoncepcional, a assistente financeira Adriana Germano da Costa, atualmente com 32 anos, precisou ficar internada durante cinco dias devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que ela classifica como um “monstro”. Adriana conta quais foram as sequelas da doença:

 

 

 

 

 

          Ela diz não ter dúvidas de que a pílula foi a causa de seu AVC. Na época, o anticoncepcional e um remédio para controle da tireóide eram os únicos medicamentos que Adriana tomava.  Além disso, o comportamento de sua ginecologista depois que a viu no hospital, “assinaram o seu testamento de culpa”, segundo ela.

 

 

 

 

 

       Hoje em dia, Adriana “luta para recuperar” os 98% que seu neurologista prometeu que conseguiria. Seu caso, embora ainda seja crítico, teve um final feliz. Gabriela Ramos, irmã gêmea da advogava Daniela Lobato, porém, não teve a mesma oportunidade de lutar pela sua vida. Há três anos, com apenas 38 anos na época, Gabriela faleceu por causa de um sangramento intenso. A causa, conforme foi constatado por uma perícia médica, foi a pílula anticoncepcional, de que ela fez uso durante cinco meses, como conta Daniela:

 

 

Riscos e

Benefícios

           No Brasil, 27,4% da população feminina usam a pílula anticoncepcional como meio de prevenir a gravidez, sendo a Classe C a maior consumidora. No entanto, o dado é de 2006 e corresponde à última pesquisa feita pelo Ministério da Saúde sobre o tema. Além de obsoleto, o estudo entrevistou apenas “mulheres unidas”, ou seja, as que tinham entre 15 e 44 anos de idade e estavam em um relacionamento.

 

       Além de ser usada para evitar uma possível gestação, os contraceptivos orais também são indicados para tratamento de ovários policísticos, cólica menstrual, endometriose e até mesmo para tratar acne e amenizar os efeitos da tensão pré-menstrual. Conforme informa a bula dos medicamentos, a pílula  anticoncepcional é contra indicada para grávidas, lactantes, alérgica a um dos componentes, pessoas com câncer de mama, sangramento vaginal sem causa determinada, pessoas hipertensas, mulheres na menopausa, portadora de diabetes, ou com antecedentes familiares de doenças cardíacas com morte abaixo dos 55 anos de idade.

 

         Alguns anticoncepcionais também são contra indicados a homens, a portadoras de HIV (pois os medicamentos interagem), a quem sofre de depressão grave, portadoras da Síndrome de Rotor e de Dubin-Johnson, entre outros. Epiléticas, tuberculosas e aquelas que estão tomando antibiótico devem olhar a bula para ver se não há interação entre os medicamentos.

 

         O medicamento, como qualquer outro, apresenta ações colaterais – um tanto mais graves. Entre elas estão a trombose, problemas cardiovasculares, embolia pulmonar, Acidente Vascular Cerebral e até mesmo a morte. O grande problema é que a muitas mulheres não sabem dos riscos e, sobretudo, do vasto número de pacientes que, assim como Adriana e Gabriela, são afetadas por eles. Vale lembrar que tabagismo, sobrepeso e idade são fatores que aumentam o risco de trombose.

 

           O ponto que mais diverge entre os especialistas é acerca de exames de trombofilia preliminares à prescrição dos anticoncepcionais, para saber se a paciente está apta para fazer uso do medicamento. O endocrinologista Marcio Krakauer, por exemplo, diz que eles não são obrigatórios, mas classifica como de “extrema importância” uma consulta para o reconhecimento de possíveis problemas de saúde ou propensões que podem vir a agravar-se com o uso do remédio.

 

 

 

 

 

 

      “[Os anticoncepcionais] podem provocar problemas bastante graves, mas esses casos são raros e acontecem com mais frequência em fumantes ou mulheres que já tiveram algum disturbio de coagulação ou já tiveram alguma trombose anterior". Pessoas obesas e hipertensas também aumentam os riscos dessas complicações, completou o endocrinologista. Krakauer friza também que “todas as opções” de contraceptivo são positivas e “muito seguras”.

 

 

 

 

 

 

      “O estrógeno é o componente que provavelmente pode gerar os efeitos colaterais”, explica a ginecologista Alice Kano. Segundo ela, o principal fator que leva a mulher a desenvolver os efeitos colaterais da pílula é a “predisposição genética”. Para detectar essa predisposição, a ginecologista defende a importância da consulta médica, na qual, segundo ela, o médico deve fazer um questionário detalhado da paciente, para ver se a paciente não tem histórico de trombofilia e de câncer, por exemplo.

 

 

 

 

 

 

          Já Daniela Lobato – que após a morte da irmã, especializou-se em direito médico –, diz que os exames devem ser solicitados antes da prescrição da pílula por uma questão de “literatura médica”. Segundo ela, isso não é feito porque o governo não quer arcar com os altos custos dos protocolos médicos.

 

 

 

 

     O movimento feminista brasileiro começou a ganhar grandes proporções a partir dos anos 1960, junto ao movimento “hippie” e a contracultura. Com ele, muitas mudanças surgiram ao longo dos anos, tirando a mulher da obrigatoriedade de viver inserida em uma sociedade patriarcal, na qual os homens eram superiores e, por isso, tinham mais direitos, e a mulher era inferior, com menos direitos e mais deveres. A chegada da pílula anticoncepcional ajudou na revolução da mentalidade e na construção da personalidade das mulheres, o que permitiu o controle sobre seu corpo e de sua fertilidade. Com isso, o amor livre tornou-se uma prática libertadora mais comumente praticada pelas mulheres do que antes.


        Como diz Rose Marie Muraro, de 79 anos, em entrevista cedida ao IHU On-Line, "Só tomamos o caráter de pessoa plena quando passamos a controlar a maternidade." A defensora dos direitos das mulheres conta na entrevista citada acima: "nunca usei pílula, porque era católica na época em que casei, e tive cinco filhos. Era muito difícil para mim sair da casa, deixar as crianças com a empregada, porque eu tinha que trabalhar, meu dinheiro era essencial em casa. Tive que construir uma carreira e, por sorte, nasci para ser escritora." Hoje, ela luta para que outras mulheres não precisem passar pelas mesmas situações, principalmente por falta de informação. 

 

         Dentre os princípios básicos das pílulas anticoncepcionais mais benéficos para as mulheres a integrante da Frente Feminista Lisandra, Marina Braga, destaca a liberdade da mulher em poder escolher como e quando tratar da sua reprodução. A feminista também destaca a importância da conscientização das mulheres sobre os riscos e benefícios do medicamento para o corpo, e o devido acompanhamento com um médico para evitar complicações. 

 

 

Visão

feminista

    Atualmente, existem 67 pílulas anticoncepcionais a venda no Brasil. A maioria é de fabricação nacional, mas também importamos da Irlanda (principalmente), Alemanha, França, Estados Unidos e Espanha.

 E a Anvisa?

      A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, quando questionada a respeito do uso dos anticoncepcionais no país - além do papel da entidade nas campanhas de conscientização, riscos e orientações gerais - oficialmente responde:

          "A Anvisa não possui legislação ou arcabouço legal que possa obrigar os médicos a notificarem eventos adversos. O mesmo ocorre com os cidadãos. Não temos como obrigar o cidadão a notificar. No entanto, a Anvisa exige a notificação de hospitais e serviços de saúde. Nesses casos, a notificação é obrigatória.

De qualquer forma, o cidadão ou o profissional de saúde pode fazer essa notificação por diversos meios, como o sistema de notificações da Anvisa, o Notivisa, Ouvidoria e o Anvisa Atende.

 

         Nos últimos anos, não houve – e ainda não há - previsão de alteração de regras para a comercialização destes produtos no País. Porém, é essencial acrescentar que a legislação sanitária prevê que indicações e eventuais efeitos adversos provocados por esses medicamentos devem constar em bula. A lei prevê que a embalagem deve constar o nome do medicamento – inclusive em braile –  número do lote, data de validade e data de fabricação, alertas sobre cuidados de conservação alterados após o preparado do medicamento ou tempo de validade reduzido após sua abertura, visando alertar o cidadão e o profissional de saúde sobre tais mudanças.

 

          Dentre as orientações disponibilizadas pela Anvisa, têm-se os informes e alertas. O mais recente é de dezembro de 2014, que atualiza as informações sobre uso de contraceptivos orais e reações adversas ; o Informe nº08 (Informe SNVS/Anvisa/Nuvig/GFARM nº 08, de 07 de novembro de 2013) sobre atualização das informações de riscos de distúrbios trombóticos e tromboembólicos com o uso de contraceptivos orais, e também, outro informe acerca do risco de formação de coágulos sanguíneos associado ao uso de medicamentos contendo drospirenona e recomendações às usuárias e profissionais de saúde."

Sobre as autoras

Giulia Araujo, 21 anos, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e de Letras (habilitação em russo) na USP. Gosto dos cânones da literatura brasileira e mundial e de crítica literária. Me dedico muito aos estudos, mas não dispenso uma festa no fim de semana.

Letícia Sabbag,  20 anos, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero em São Paulo. Louca por livros de suspense, aventuras, ficção e livro-reportagens – além de ser apaixonada por rádio e televisão. Gosto do caos da vida urbana, mas também não dispenso um dia de sol e mar. Tenho como esporte o Pole Dance, e luto para que ganhe espaço nas Olimpíadas.

Natália Belafronte, 20 anos, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero em São Paulo. Filha única, apaixonada por pets e por esportes radicais. Amante do sol, do mar e das coisas boas que a vida nos trás.

Nicole Fusco, 21 anos, cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Ama escrever, ler e assistir a documentários. Além de aprender, gosta de fazer dieta e praticar musculação.

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